Contando histórias

Há algo sobre o tempo que é meu espinho na carne. Você não vê? Não sente também? Há algo peculiar e curioso em como ele me atravessa, na forma em que puxa meu corpo para o centro da Terra e estremece meus átomos tão delicadamente que quase não noto. Às vezes, me sinto uma senhora de 90 anos, observando a vida que me passa, sendo acometida de tempos em tempos pela ideia de que já vivi algo semelhante ao que estou vivendo. E, às vezes, me sinto como um bebê que mal percebe a passagem da vida por si, que mal entende do que se trata o medo que sente e o deslumbramento que lhe brilha os pequenos olhos.

"O tempo é simultâneo", eu li há alguns anos. Li como um bebê que entende algo pela primeira vez, mas, não sei como explicar sem pareça metáfora - juro que não é; ao mesmo tempo, senti como se fosse aquela velha senhora que sempre soube, que só tinha esquecido por um segundo, porque a memória anda falha como é de ser.

Bem, espero que me perdoe as bobeiras dos últimos dias e os parágrafos mal explicados. É que aquela sensação de sonho - sabe? - ela não me sai do pensamento...

A velha, que habita seus anos bem vividos há anos de distância de mim, não entende ainda o porquê de eu fazer o que faço. O motivo de criar tantas histórias, tantas memórias, tantas ficções. Ela, de lá, sabe que isso, nem nada, levará a destino algum. O bebê, em seus sonhos mais sinceros e sorrisos fora de hora, entende que cada história vivida, contada ou imaginada é tão unicamente curiosa que o instiga a seguir a voz que o conta numa paixão quase voraz.

Doutra parte, eu. Eu que observo tudo feito um narrador. Ora paciente, ora impaciente. Ora observador apenas, ora participante como se deve ser. Eu, que não me aguento em mim em tantos eus que me cabem, sigo tomando meu café, fazendo o meu trabalho e dando vazão às paixões estúpidas, efêmeras e vaidosas. É que só sei contar assim uma boa e inesquecível história.

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