A mulher da Rua 7

Tinha certo descontrole no entrelaçar das pernas. A mão trêmula insistia em levar o copo à boca. Tinha certo descompasso, também. Era notório. Na ânsia de favorecer a intuição, tentava fazer com que nada escapasse do olhar, mas por isso mesmo as coisas lhe escapavam, como se fugissem dela, como se fosse melhor não saber. E, bom, talvez fosse mesmo. Dizia, raivosa, com o cigarro entre os dedos: "Se essa rua fosse minha" - dava uma pausa para que se fizesse o mistério - "Nada faria, nem se quisesse". Deixaria, dizia, que os outros fizessem. Que pintassem, que corressem, que deixassem como está. "Mas deus não dá asas às cobras, não é?". E punha-se a rir de quase cair do alto de sua cadeira de plástico. "Especialmente às que são como eu, com esse batom, esse sorriso e essa coisa entre as pernas". Mais um gole gelado e ia embora de repente, assim como veio. E pior: sem deixar um tostão pra conta.

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