Eu quero ser o pássaro que volta e meia vai te dizer que vai ficar tudo bem. Mas nem sempre. Na maioria das vezes, eu vou te irritar. Vou ser aquele belo canto que você não aguenta mais ouvir. A doce melodia dos animais que contrasta com a poeira que vem da rua, da cozinha, das grandes fábricas perto da praia. Vou te irritar porque é bonito o que digo, mas não parece nada com o que você vê ao seu redor. Vou querer te fazer feliz, enquanto você vai implorar pela solidão. Mas estarei ali, assobiando canções de esperança, meio que pra ser do contra. Se você fosse o pássaro, eu mesma me faria corvo. Gosto de ser assim, oposto. Só assim pra transformar aquela noite louca que tivemos em prosa. Caso contrário, seria só mais um dia comum, sem nada muito extravagante pra fazer com que a minha péssima memória me lembrasse. E sei, também, que quando eu estiver corvo, você vai ser passarinho. Porque se não for assim, não será. É como se tivéssemos selado esse contrato no primeiro momento em que nos vimos. E isso não é tóxico, pelo contrário. É só a gente tentando fazer aquele movimento de soma, sabe? De apresentar alternativas aos desejos próprios, e alheios. Não fosse isso, o caminho seria sempre uma linha reta, do qual já saberíamos o fim sem perguntar. Pra nós, quem vive assim se engana. É uma grande farsa. Por isso a gente entorta a linha, vira curva. Por isso a gente se alterna entre passarinho e corvo. Pra poder, vez ou outra, se sentir vivo.

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