Peguei o metrô na Central dia desses. Desci três estações depois e só agora parei pra me perguntar se você já havia andado de metrô. Desde que você se foi, sou parte do que você deixou e isso pra mim não é ruim - apesar da dramaticidade necessária ao dizer. Afinal, desde que tudo aquilo aconteceu, a morte me tomou de assalto e não há um minuto sequer que eu não tenha pensamentos existenciais.


Se não tivesse sobrado, portanto, um pouco de você em mim, eu, intensa e impulsiva como sou, não veria muita necessidade em continuar procurando um emprego que vai me explorar durante doze horas seguidas por um salário que mal dá pra pagar as contas.

E enquanto envelheço, rejuvenesço. Todas aquelas conversas que eu tinha, antes, na mesa do bar, agora me doem a nuca como se o mundo delicadamente se assentasse sobre mim. E depois doem as costas, o estômago, o útero. Rejuvenesço, então, na direção da meninice, da molecagem. Permito que minhas preocupações centrais sejam simples de resolver, permito sentir como uma menina cujo primeiro amor não é correspondido, porque lá dentro sei que tudo isso já foi solucionado.

Tento não pensar na finitude, na galáxia, no tempo. Mas, como Cássia e tantos outros, sou poeta e não aprendi a amar. O que me sobra é escrever. Agora, procuro me dividir entre a velhice a juventude, ainda que, sabemos, a qualquer hora a escolha será feita, sozinha. Independente do meu querer.

Voltando da Tijuca, peguei um trem. Penso, agora, se você teve a oportunidade em vida de ver passarem as estações, os ambulantes, as pernas apressadas - enlatadas no meio da cidade. Olho o celular e meus problemas adolescentes me chamam. Há certo equilíbrio ainda, graças a você.

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