televisão

eu tive vontade de escrever um texto motivacional, porque percebi uma tristeza exagerada nas pessoas. depois pensei que essas coisas quase nunca são efetivas (para a cura). esses livros, esses textos, essas imagens são como analgésicos. aliviam a dor que estala constantemente em nossa existência. mas ela volta. observem, porém, que não faço um juízo de valor, analiso apenas a praticidade do procedimento.

tem gente que gosta de depender de analgésicos. tem gente que gosta de depender de outras coisas. fico me perguntando se sempre precisaremos de "coisas para depender". e isso me doi. por isso, passo muito tempo assistindo televisão quando penso demais em minhas dúvidas. é o meu analgésico.

uma coisa que me entristece é saber que o saber é uma dor, uma dor como aquele espinho na carne de paulo. uma dor meio que naturalizada, que anda com a gente, acorda, vive, dorme e morre com a gente. tudo soa meio triste quando coloco nesses termos. o saber envolve tantas coisas boas, mas acho que isso fica só no início da vida, quando tudo é descobrimento e novidade. depois: só desgraça. e tudo isso nos consome por dentro. (pensei em incluir uma frase motivacional aqui, como: "precisamos recuperar a sensação da novidade", mas acho que você também pensou nisso)

não me sinto deprimida. me sinto até muito feliz, talvez privilegiada. gosto de ver televisão, ler meus livros. gosto de observar minha estante perder espaço, gosto de tomar um banho quente quando está bem frio. gosto de abrir a geladeira e ter algo bem gosto pra comer. gosto de ter amigos e de poder beber cerveja com eles. gosto de saber escrever e, principalmente, de poder escrever poemas. gosto de dormir, apesar da infernal dor na coluna, em minha cama confortável (com meu cobertor confortável). gosto das coisas boas que tenho. gosto de toda aquela baboseira importante: beijos, pôr-do-sol, carinho, sorriso, etc e tal.

mas carrego a tristeza do mundo comigo. como se fosse um objeto a ser observado, estudado. volta e meia acendo a luz da esperança. mas, confesso, às vezes, eu a apago. quando isso acontece, me apego a um dos meus poucos pensamentos motivacionais: poderia ser pior.

e assisto televisão.


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