Correspondente

Eu tenho uma correspondente. Nada de simetria, nada de horóscopo e nem alma-gêmea. Eu falo de cartas. É para ela que, nos dias de chuva, declaro minhas tristezas e quando tem muita música, descrevo tudo depois da festa.
Tanto faz se pouco sabemos uma da outra e se a passagem de lá pra cá custa um preço alto. O que nos interessa é a vontade de escrever para um alguém que irá ler cada minúscula letra grafada. E aí está o verbo principal de nossa história: ler.
A necessidade que um escritor tem de ser lido é imensa, mas dói quando não acontece. É melhor, então, nem pensar.
Costumávamos ser amigas íntimas. Assim, distantes pela geografia, ligadas pela literatura (e pela tecnologia, também!). Ainda somos. Não é preciso muitas palavras de consolo, apenas o relato da vida cotidiana mostra uma preocupação constante e uma necessidade mútua de saber como vai você.
E agora, ou mesmo depois, estou indo ao correio, com sorriso de-ponta-a-ponta, inserindo-me e encontrando-me cada vez mais no cenário de um filme romântico, que, com teor infantil, conta a história de um ser, vivente, brasileiro e que respira: eu.
Sempre quis fazer parte de um filme. Porque, para nós, a nova vida é tão sem graça ou extrema que não desperta tanto interesse quanto uma história, podendo até ser menos agitada, mas que foi contada num tom meigo e sedutor. Ao olhar de um cinegrafista...
Talvez para Cazuza a vida dele não fosse nada demais, mas, durante instantes, o filme tornou a minha vivência nula.
Um pouco embolada e apressada, tô tentando dizer que me orgulho da minha pequena correspondente. Aliás, ela parece uma boneca, mas vai para Londres ano que vem. E eu ficarei sem ninguém para desabafar meus futuros suspiros universitários.
De qualquer forma, o cep está guardado.

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